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"Estava doente e visitastes-me..."

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Doentes na paróquia: uma prioridade

de Arnaldo Pangrazzi (in Creatividad pastoral al servicio del enfermo)

OS DOENTES NA PARÓQUIA: UMA PRIORIDADE (*)

 

 Para uma boa prática na visita ao doente

Disfarçada ou brutal, a doença provoca sempre uma rutura no desenvolvimento da vida do ser humano. Adoecer…e perder assim o equilíbrio da saúde é uma experiência que “causa dano” e que questiona profundamente o homem. Ao perder a autonomia o doente transforma-se em dependente, tem de ser assistido. Os projetos desmoronam-se como castelos de cartas…O abandono do trabalho, a exclusão da vida social….Entra-se num novo mundo… O corpo transforma-se num estranho. É ele que dita a sua lei incompreensível e insuportável. Experiencia-se o peso da dependência dos tratamentos e dos enfermeiros. Estar doente significa aguentar as visitas da família e dos amigos, sem defesa possível, mesmo nos dias de maior cansaço. A experiência da doença revela a profundidade fundamental de toda a vida humana. O êxito e a atividade frenética relativizam-se, rapidamente, perante o essencial: viver! O homem toca os limites da carne e do espírito. Está só perante o desconhecido, a angústia esconde-se atrás da sua porta… As perguntas religiosas, durante tanto tempo escondidas, afloram por vezes à superfície: Para que serve a vida? Para chegar a isto? … Porquê e por quem sofrer…? Será que Deus me marcou um encontro com Ele? Do mesmo modo que de qualquer outra provação, também desta que a doença constitui, se podem obter ensinamentos: e se esta doença fosse um sinal de alarme que me convida a mudar alguma coisa na minha maneira de viver? Este isolamento forçado não pode converter-se numa oportunidade para me distanciar e rever as minhas prioridades? E, por vezes, descobre-se outro rosto de Deus que transforma a nossa maneira de estar no mundo e de nos relacionarmos com os outros.

 

A Visita Pastoral: como fazê-la?[i]

Alguns elementos a ter em conta

O encontro do agente de pastoral com as pessoas que sofrem evidencia uma das preocupações mais constantes da Igreja ao longo da sua história. Quer se realize no contexto hospitalar como em ambiente familiar, a visita pastoral é um momento privilegiado para fazer sentir o apoio da comunidade cristã aos seus membros em sofrimento. A dinâmica da visita pastoral sofre a influência dos humores e valores, das preocupações e experiências das pessoas que encontramos, como já vimos. Há visitas breves que confortam, outras longas que cansam; há intervenções que incomodam, outras que fazem amadurecer. Cada visita é uma oportunidade de formação permanente que permite ao agente de pastoral captar cada vez melhor as veredas da alma humana, aproximar-se com maior respeito do sofrimento dos outros, e oferecer o seu humilde contributo ao crescimento dos doentes, ajudando-os a esclarecer a sua vivência e a despertar as energias escondidas em benefício da sua saúde física, psíquica e espiritual.

O contacto pastoral intensifica-se quando está sustentado pela reflexão e se aperfeiçoa na medida em que o agente é capaz de diversificar os próprios contactos iniciais e corrigir as intervenções inoportunas para dar espaço à criatividade do amor. A estrutura de uma visita pastoral caracteriza-se geralmente pelos seguintes conteúdos:

 

As motivações da visita

São muito diversas as razões que conduzem o agente de pastoral à cabeceira do doente. Para alguns, a visita ao doente faz parte da rotina do trabalho; para outros trata-se de satisfazer o pedido de familiares; há outros casos em que são chamados pelo próprio doente ou pelo pessoal hospitalar. Logicamente, cada situação cria expectativas distintas que se refletem no espírito da visita. Por exemplo, o estado de ânimo com que se visita um doente que pediu para falar com o Capelão é diferente daquele com que se realiza a visita porque os familiares exerceram pressão sobre um ente querido, em conflito com a Igreja, a fim de o conduzir de novo a Deus. O risco está em criar expectativas muito elevadas que não se concretizam.

 

O contacto inicial

Quando se visita um doente é conveniente apresentar-se e motivar/ justificar a visita. Uma apresentação simples, na qual se dá a conhecer o nome, serve para personalizar o encontro e criar um clima favorável ao desenvolvimento da relação. Nesta fase inicial a capacidade de observação por parte do agente de pastoral cumpre uma função significativa. Pode observar o ambiente que rodeia o doente ( o clima físico e os objetos pessoais: flores, jornais, fotografias, terço, Bíblia…) e reter as informações importantes que esse ambiente pode fornecer. Mais importante ainda é observar o próprio paciente: as expressões do seu rosto, os sentimentos que deixa transparecer, para os utilizar quando se julgar oportuno, com o objetivo de alimentar o diálogo.

Além disto, o visitador tem que possuir a capacidade de auto observação e de avaliar de que modo o seu comportamento e as suas reações podem favorecer ou prejudicar o diálogo.

 

Desenvolvimento da conversa

Os primeiros dois minutos de uma visita são cruciais. Os interlocutores estudam-se mediante o uso de diversos mecanismos verbais e não verbais.

Geralmente a conversa orienta-se para um destes dois campos:

- conversa social: fala-se do “tempo”, de “futebol”, de “política”, das “últimas notícias”, como método para explorar o terreno e para dissipar um pouco a ansiedade. Mas também pode ser um método para evitar um verdadeiro encontro. Por vezes o doente prefere manter o contacto a este nível, falando de coisas que se referem ao mundo externo, não ao seu mundo. O problema surge quando o agente não sabe captar as aberturas pastorais do doente e concentra a sua atenção na conversa “social”.

- conversa pastoral: o diálogo centra-se no doente: este fala de “medo”, de “condições físicas”, de preocupações familiares”, de “necessidades religiosas” e outros temas semelhantes. O diálogo assume um tom pessoal. A capacidade de captar estas preocupações e de lhes dar resposta define o estilo pastoral.

A escuta é um fator determinante na relação. Da escuta nasce a confiança. A presença de alguém que escuta e compreende, facilita a tarefa de abrir o coração, partilhando estados de ânimo, tensões e exigências. O agente atento contribuirá para o esclarecimento dos problemas e para trazer à luz os valores e os recursos do doente.

Conclusão do diálogo

A conclusão da visita constitui um último e importante momento. Há agentes de pastoral que não reconhecem o momento de pôr fim a um encontro; outros tendem a terminá-lo demasiado rapidamente; outros, a quem o doente não tem outro remédio senão despedir da melhor forma possível; e outros, naturalmente, que sabem calcular sabiamente o tempo e a forma de concluir a sua visita pastoral.

O estilo da conclusão de um encontro varia de pessoa para pessoa e de acordo com as situações. São elementos recorrentes:

- um simples cumprimento formal;

- a promessa de voltar ou de uma lembrança especial na oração;

- uma breve síntese dos temas tratados, sublinhando progressos e metas;

- uma reflexão pessoal sobre a conversa havida;

- uma oração que resuma as preocupações e as esperanças do doente.

Cada visita pastoral é uma oportunidade para comunicar Deus a quem sofre; cada visita é uma oportunidade para encontrar Deus naquele que sofre. Cristo disse: “o que recebe uma criança como esta em Meu nome é a Mim que recebe” (Mt.18,5). Ele deu-nos o exemplo de como devemos encontrar-nos com o próximo: amou com o seu olhar, curou com as suas mãos, escutou as queixas dos atribulados, deu confiança aos aflitos, entrou no coração das pessoas e conduziu-as até Deus.

Atitudes a evitar

Assumir caras tristes

Ver a doença mais do que a pessoa

Oferecer piedade, pena ( em vez de respeito)

Usar frases feitas

Impor os seus próprios valores ou esquemas

Minimizar as perdas

Julgar sentimentos

Pretender mudanças quando estão quase a morrer

Dar falsas esperanças

Insistir para que comam ou falem

Frases que se devem evitar

É a vontade de deus

O tempo tudo cura

Há quem sofra mais

Chorar não resolve nada

Deus sabe o que faz

Quem crê em Deus não chora



[i] Extraído de : Arnaldo Pangrazzi; “Creatividad pastoral al servicio del enfermo; Edit San Pablo. Pags 31-35;Bs.As.1.