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Viver e celebrar a Fé no Hospital

de Pe Fernando Sampaio

Viver e celebrar a fé no Hospital

Fernando Sampaio

1 – Jesus e a saúde

Os evangelhos dão conta que a “agenda terapêutica” de Jesus estava todos os dias sobrecarregada com o acolhimento e cura de doentes, cegos, coxos, leprosos. Para além de muitas curas, Jesus até ressuscitou a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim, o seu amigo Lázaro. Tudo isso era revelação do amor libertador e salvador de Deus e sinal da presença do Reino de Deus no meio dos homens.

A vontade de Deus, então, não é a doença e o sofrimento, mas a saúde e a salvação. Teria Jesus curado alguém se a doença fosse castigo de Deus, por causa do pecado? A doença e os sofrimentos, com efeito, não são castigos de Deus, por causa do pecado, mas consequência da fragilidade do corpo humano. Será que as plantas e os animais quando adoecem é porque também pecaram? Tendo como referência Jesus que curava os doentes, é nosso dever prevenir e promover a saúde, a saúde própria e a dos outros. Por isso Jesus ordenou aos seus discípulos: “curai os doentes” (Mt 10, 8) e “tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim que o fizestes” (Mt 25, 40).

2 – O sofrimento absurdo

A doença e o sofrimento, no entanto, são factor de perturbação. Levam o doente a interrogar-se sobre o sentido e o valor da vida e da fé, sobre a existência de Deus. Não estamos a falar do sofrimento em relação ao qual encontramos um fim: uma mãe que dá à luz, alguém que luta por liberdades políticas, ou aquele que enfrenta a perseguição por causa da fé. É certo que há sofrimentos provocados por injustiças sociais e pela opressão dos poderosos, ou por causas naturais. Devem ser activamente combatidos os primeiros e a natureza deve ser respeitada.

O que provoca sofrimento existencial e espiritual é o sofrimento absurdo, o sofrimento que não serve para nada e degrada a pessoa, como é o caso do cancro e outras doenças. Confrontam a pessoa com a sua fragilidade e precariedade; humilham-na com a possibilidade de destruição pela morte. Compreende-se, então, que o doente grite o seu profundo desejo de viver. Esse grito, que é um desabafo, indignação e revolta face ao sentimento de condenação, ao absurdo do sofrimento, e traduz-se geralmente em perguntas: porquê eu? Que mal fiz? Onde está Deus? Que sentido tem a vida?

3 – A âncora da fé: viver de forma cristã o sofrimento

O que fazer? Como agir? Negar a doença e o sofrimento é cair nas suas teias. Procurar os meios que a sociedade oferece para promover a saúde e combater a doença e o sofrimento é um dever. Mas isso não chega porque a doença e o sofrimento absurdo manifestam-se também ao nível existencial e ao nível espiritual; e, por vezes, o sofrimento espiritual ultrapassa largamente a dor física. É necessária, por isso, a âncora da fé.

A oração, os sacramentos (confissão, unção, eucaristia), a palavra de Deus, a visita do sacerdote e a visita dos irmãos na fé, na Paróquia ou no Hospital, são uma preciosa ajuda. Deus não abandona, mas quer estar intimamente unido ao doente nessa hora de cruz. Quer, como conta a parábola das pegadas na areia, levá-lo ao colo nesses tempos duros de dor e de solidão interior. Deus é fiel e o Seu amor de Pai é consolador. A presença do sacerdote e dos irmãos é não só um gesto de amor fraternal, mas também torna sacramentalmente presente o Senhor da Vida. Por isso a Palavra de Deus, através do Apóstolo Tiago 5, 15, ordena: “algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”.

4 – No Hospital, pedir a visita do capelão

O internamento no Hospital não impede a vivência e a celebração da fé. Pelo contrário. Existe em todos os hospitais um Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa para que seja possível o conforto espiritual da fé durante esse tempo de sofrimento e afastamento da comunidade cristã e da família. Ter acesso à assistência espiritual e religiosa é, por isso, um direito. Os profissionais estão conscientes disso e manifestam-se disponíveis para ajudar o doente a viver a sua espiritualidade. O doente tem também o direito a ter consigo objectos e literatura religiosa, mas deve ter em conta o espaço exíguo da mesinha de cabeceira. Tem direito ainda a não ser incomodado por pessoas de outras crenças religiosas, devendo chamar os enfermeiros, se necessário.

O doente, no Hospital, não deve estar passivamente à espera que o capelão ou alguém da igreja passe. Deve, antes, tomar activamente a iniciativa de pedir a visita do capelão aos enfermeiros. E deve fazê-lo logo aquando do internamento para usufruir de ajuda espiritual desde o início da estadia no hospital: visita, oração, sacramentos, nomeadamente a reconciliação, a unção e a comunhão, pedindo ao Senhor saúde e força interior contra a resignação e contra as tentações. Se o pedido não for atendido, não deve haver medo nem vergonha em insistir. A vida dos profissionais é muito dura e exigente e pode haver esquecimento. O doente, por isso, deve insistir. Com efeito, afirmar a fé no Hospital é não só um direito, mas também um profundo acto de liberdade. Diz Jesus que todo aquele que se declarar ser Seu seguidor diante dos homens também Ele o declarará como seu discípulo diante do Pai (cf. Mt 10, 32).

 No que se refere à celebração dos sacramentos, estes realizam a comunhão com Jesus, o Senhor da Vida, da Esperança e da Paz. É um erro grave pensar que a visita do sacerdote anuncia a morte, ter medo da Unção dos Enfermos, pensando que ela atrai a morte, ou reservá-la para o momento da agonia a fim de não estar consciente quando é ministrada. Revela ignorância, falta de fé e desconfiança de Deus. Não se pode esquecer que os sacramentos devem ser pedidos pelo próprio doente, pois só são válidos quando este manifesta fé e os quer receber. Neste sentido, há doentes que chamam á unção o “sacramento das melhoras” e outros, em relação à comunhão, dizem que é alento e conforto para enfrentar e suportar a dor.

5 – Sobre o direito do doente à assistência espiritual e religiosa no Hospital (In decreto-lei 253/2009, artigo 12.º).

Segundo o decreto-lei 253/2009, o doente tem direito à assistência espiritual e religiosa quando se encontra internado no Hospital, bem como a não ser incomodado. Neste sentido, em direito a:

a) Aceder ao serviço de assistência espiritual e religiosa;

b) Ser informado por escrito sobre os direitos à assistência Espiritual e religiosa

c) Rejeitar a assistência não solicitada;

d) Ser assistido em tempo razoável;

e) Ser assistido com prioridade em caso de iminência de morte;

f) Praticar actos de culto;

g) Participar em reuniões privadas com o capelão;

h) Manter em seu poder objectos e publicações de conteúdo espiritual e religioso

i) Ver respeitadas as suas convicções religiosas;

j) Optar por uma alimentação que respeite as suas convicções espirituais e religiosas, ainda que tenha que ser providenciada pelo utente.

 

6 - Para terminar

A doença e o sofrimento não são castigos nem provas que Deus envia. São consequência da fragilidade da natureza humana e, neste sentido, partilhamos da fragilidade de todos os seres vivos. Viver e celebrar a fé ajuda a enfrentar o sofrimento e a promover a saúde. O internamento hospitalar não impede a prática da fé. Pelo contrário, é um tempo propício ao relançamento da vida de fé e da prática religiosa, pedindo a visita do capelão e o seu apoio espiritual. Na verdade, estando internado no hospital, é bom sentir a solicitude humana e espiritual dos irmãos.